
"Les Singes" é baseado no conto de Franz Kafka "Relatório a uma Academia" de 1917, no qual um macaco conta aos membros de uma Academia sobre o processo de transformação pelo qual aprendeu a comportar-se como um humano.
Nesta nova adaptação, Pedro o Vermelho, como foi chamado pelos soldados que o capturaram, é transportado num navio para trabalhar num grande circo. Pedro toma consciência da sua prisão e descobre que, se imitar os humanos, pode deixar esta situação claustrofóbica por uma ligeiramente mais confortável, assimilando a cultura de qualquer cidadão europeu.


Trabalhando no circo com outros macacos, Pedro o Verrmelho acha divertido que o público pague para ver o que os acrobatas fazem no trapézio, tal como os macacos fazem nas árvores, de graça.
Órion Lalli, diretor e ator do espectáculo, alude às diferentes ferramentas do sistema social em que vivemos, e no qual o sofrimento é a base para 'encaixar', ou seja, 'encaixar em caixas heteronormativas', de modo a ter um sentido de pertencimento social. Civilização VS barbárie, sujeitos iguais com os seus poderes destrutivos e construtivos. As metáforas da transformação forçada para encaixar no mesmo sistema que dita o que deve ou não ser feito são também alegorias do processo de asilo político vivido por Órion em 2021.
O confinamento é a condição de quem foi privado da sua liberdade, de quem foi, literal ou figurativamente, encarcerado numa gaiola, posto na prisão. Estar preso, é não poder sair, é claro, mas é também ter perdido a sua origem.
.jpeg)

Meu namoro com Kafka e alguns rabiscos sobre essa nova montagem na França
20 de maio de 2022
"Li recentemente, num artigo de algum dos dez mil cabeças de vento que se manifestam sobre mim nos jornais, que minha natureza de símio ainda não está totalmente reprimida; a prova disso é que, quando chegam visitas, eu tenho predileção em despir as calças para mostrar o lugar onde aquele tiro entrou. Deviam arrancar um a um os dedinhos da mão do sujeito que escreveu isso. Eu — eu posso despir as calças a quem me apraz; não se encontrará lá nada senão uma pelúcia bem tratada e a cicatriz de um — escolhamos aqui, para um objetivo definido, uma palavra definida, mas que não deve ser mal entendida — a cicatriz de um tiro delinquente. Está tudo exposto à luz do dia, não há nada a esconder; quando se trata da verdade, qualquer um de espírito largo joga fora as mais finas maneiras. Se, ao contrário, aquele escrevinhador despisse as calças diante da visita que chega, isso sem dúvida teria um outro aspecto e quero considerar como sinal de juízo se ele não o fizer. Mas então que me deixe em paz com os seus sentimentos delicados!"
Trecho do livro - Um Médico Rural - Franz Kafka "Relatório a uma Academia".
Quando entrei na minha primeira universidade em 2012 eu não sabia exatamente o que esperar, estava super animado com a possibilidade do fazer artístico, mesmo vindo de uma família de artistas, de ter começado muito cedo no teatro popular, queria mesmo era conhecer novas possibilidades e os “novos” fazeres teatrais, novos para mim, que cresci no que chamamos no Brasil de "teatrão".
Confesso que em 2022, depois de entrar em duas academias diferentes e de todo o processo que vivi relacionado ao meu trabalho artístico, tenho certeza que odeio a academia, porém, é mesmo muito desconfortante pensar em como essa mesma academia que odeio me moldou e que, de certa forma, eu sempre acabe voltando para o seu pensamento teórico. Analisando isso friamente, percebo o quão perto eu sempre estive desses fatores propostos no conto do Kafka em uma leitura mais aprofundada a relação com o adestramento do corpo físico e psíquico do ator/artista. O ato de ser adestrado é algo que me machuca e fere de uma forma absurda, ao mesmo tempo, é um dos fatores que martela todos os dias na minha cabeça. Talvez por isso que só agora o conto de Kafka “Relatório a uma Academia” que tomei conhecimento lá em 2013 faça tanto sentido. Nada mais justo que para ilustrar esse momento, e manter essa minha pesquisa documental, do que deixar aqui um dos últimos registros em vídeo que tenho desta época da minha primeira academia.
Vou começar dizendo qual foi o start para montar esse pequeno processo criativo chamado "Les Singes", fui convidado pra substituir um espetáculo que seria apresentado no Festival Transform! #4 e que, por falta de tempo, tinha que pensar em montar um espetáculo no qual eu tinha muito domínio sobre o texto. Como meu trabalho é sempre muito documental, abri a caixinha das memórias e fui resgatar textos que eu já tinha trabalhado e que de alguma forma se conectassem com o momento que estou vivendo.
Fui rememorando as aulas de corpo e ritmo, ministradas pelo Alexandre Caetano e como a influência do estudo da corporeidade dos animais estava sempre presente em suas aulas. A forma com que ele conduzia esses exercícios me deixava inquieto, cheio de perguntas e com uma vontade gigantesca do fazer artístico. Ele nos dizia para observar as pessoas nas ruas, o jeito que elas caminhavam, para que observássemos os menores animais da terra e quais eram as suas relações com o mundo exterior. Tudo isso foi abrindo um universo totalmente novo para mim, e as novas percepções desse olhar (que depois, em 2018, se transformaria em uma pesquisa cientifica "Olhar sobre o olho que nada olha" realizada no Centro de Artes Celia Helena.)


Com as aulas de corpo tínhamos as aulas de Voz e Texto com o Moacir Ferrar, que a cada palavra que saia de sua boca era um delírio eterno para os meus ouvidos. Como era possível transformar o som solto no espaço em algo tão majestoso? Sua virtuose em transformar até o mais besta dos textos em uma obra-prima me fascinava e fascina até hoje. Penso que só quem teve aula com esses "mestres" sabe o que estou dizendo. Eu até já tive outros "mestres" antes deles, porém, parecia que eles diziam exatamente o que eu precisava escutar naquele momento enquanto futuro pesquisador e desse embrião da arte que estava sendo gestado em mim.
Foi graças a esses dois professores que conheci Kafka lá em 2012/13, entre tantos outros textos, esse fascinava todos daquela turma de teatro. Me lembro a primeira vez que fomos assistir o espetáculo "Primus", onde os meus dois "mestres" estavam em cena e juntos. Até hoje não sei descrever o meu sentimento naquela noite! Esse espetáculo tinha sido criado em 1999 e é também uma versão desse mesmo conto de Kafka, me impressiona o quão atual ele continua sendo, Alexandre Caetano e Moacir Ferraz atuavam de uma forma que eu nunca tinha visto, propondo pensamentos que foram escavados no conto de Kafka, abrindo um grande túnel de possibilidades.
Encontrei esse vídeo do espetáculo "Primus", que inclusive foi gravado no mesmo festival que participei por duas edições. Aqui é que o coração fica quentinho e de onde vem grande parte das minhas referências para criação desse novo projeto! Mais uma vez agradeço por acreditarem naquele garoto de 2012.

Acredito que nessa época eu era muito mais feliz do que sou hoje, e associo isso justamente a analogia do conto do Kafka sobre domesticarem esse meu corpo de artista e como essa domesticação pode ser muito boa e também muito destrutiva.
"Só agora começo o exercício prático. Já não estava esgotado demais pela aula teórica? Certamente: esgotado demais. Faz parte do meu destino. Apesar disso estendo a mão o melhor que posso para pegar a garrafa que me é oferecida; desarrolho-a trêmulo; com esse sucesso se apresentam aos poucos novas forças; ergo a garrafa — quase não há diferença do modelo original; levo-a aos lábios e — com asco, com asco, embora ela esteja vazia e apenas o cheiro a encha, atiro-a com asco ao chão. Para tristeza do meu professor, para tristeza maior de mim mesmo; nem com ele nem comigo mesmo eu me reconcilio por não ter esquecido — após jogar fora a garrafa — de passar a mão com perfeição na minha barriga e de arreganhar os dentes num sorriso."
Trecho do livro - Um Médico Rural - Franz Kafka "Relatório a uma Academia".
Nesse mesmo ano propus uma investigação com uma grande amiga (que acabou abandonando o curso de teatro justamente por que se sentia presa nos ideais da academia). A ideia dessa performance era falar da possível evolução humana, dessa criação de tudo e eu (com um corpo ainda muito jovem) quase sem nenhum domínio corporal, propus esses corpos primatas, esse primeiro contato entre o que chamamos de pré-histórico e a relação de construir um novo humano e evolução, muito cercado pelos pensamentos dessas bagagens que estava adquirindo nessa época.
Bem… Como disse, meu trabalho é extremamente documental então tenho muitos arquivos de quase todas as fases da minha vida. Encontrei essa foto e esse pequeno vídeo de um dos primeiros ensaios dessa performance!

Nessa época eu e algumas amigas nos interessamos muito por esse conto, acredito que foi pelo espetáculo "Primus" que tínhamos assistido, espetáculo esse que vi mais de 5 vezes em diferentes locais. O mais legal foi ter conversado com meu pai e ele me dizer que assistiu esse espetáculo também quando estava na Unicamp. Começamos então a pesquisar outras montagens que poderíamos assistir e outros textos que nos ajudariam a entender um pouco mais esse universo, entre essas pesquisas tomei conhecimento da montagem do espetáculo "Comunicação a uma academia" dirigido por Moacyr Góes, em 1993, um ano antes do meu nascimento, com Ítalo Rossi, que tinha sido apresentada no Teatro Villa Lobos, infelizmente só encontramos documentos de registro desse espetáculo, e não conseguimos assisti-lo.
A relação animal vs humano (que hoje entendo também como civilização vs barbárie), passou então a ser algo que se tornaria um ponto de partida de pesquisa em meu corpo, ainda 2013 comecei a procurar qualquer forma de estudo envolvendo essa temática e acabei fazendo parte da oficina da ENTOMODANCE- EA&AE que era sobre a relação do inseto no corpo do ator, a relação animal vs humano que era presente em toda a abordagem desse grupo e que me motivava a seguir com essa pesquisa, só que dessa vez colocando ela em prática no meu próprio corpo . Cada vez mais me fascinava esse caminho que estava seguindo, e como essas coisas se conectavam com o que viria a ser esse meu namoro com Kafka.
"Quando em Hamburgo fui entregue ao primeiro adestrador, reconheci logo as duas possibilidades que me estavam abertas: jardim zoológico ou teatro de variedades. Não hesitei. Disse a mim mesmo: empregue toda a energia para ir ao teatro de variedades; essa é a saída; o jardim zoológico é apenas uma nova jaula; se você for para ele, está perdido. E eu aprendi, senhores. Ah, aprende-se o que é preciso que se aprenda; aprende-se quando se quer uma saída; aprende-se a qualquer custo. Fiscaliza-se a si mesmo com o chicote; à menor resistência flagela-se a própria carne. A natureza do macaco escapou de mim frenética, dando cambalhotas, de tal modo que com isso meu primeiro professor quase se tornou ele próprio um símio, teve de renunciar às aulas e precisou ser internado num sanatório. Felizmente saiu logo de lá."
Trecho do livro - Um Médico Rural - Franz Kafka "Relatório a uma Academia".
Minha gente, como amo ter documentado toda a minha vida! Olha essa relíquia de 2014 dessa oficina que encontrei, as imagens não são muito boas, porém, dá para sentir o objeto dessa pesquisa animalesca!
Em 2014 ainda com a cabeça cheia de ideias e com vontade do movimento, tínhamos que trabalhar um exercício de improvisação para um projeto interdisciplinar, que chamamos de "Máquina Humana" trabalhando os recursos de interpretação que demonstravam a espontaneidade do ator nas ações dramáticas. Nesse nosso exercício o participante era convocado a fazer parte de uma máquina, fazendo de seu corpo uma engrenagem a qual respeitava um ritmo de maneira que os movimentos e sons emitidos pela engrenagem deveriam ser improvisados, porém, respeitando a cadência da máquina que ali era formada e respeitando as regras impostas pelo facilitador. Mais uma vez estávamos caindo na domesticação do nosso próprio corpo, dentro do espaço acadêmico.
Um esboço da arquitetura de cena proposta nesse exercício de 2014.

E, no meio dos meus arquivos de vídeo acabei encontrando esse de outro exercício, nesse caso já posso ver a ideia da mimese do macaco sendo trabalhado no meu corpo, ainda tudo muito primário. Me lembro que essa gravação foi feita na casa de uma das minhas amigas, que inclusive antes de sair para o asilo me recebeu por duas semanas e me acolheu e cuidou de mim nesse momento tão difícil e que honra encontrar esse vídeo. Na época não fazíamos ideia do tamanho da nossa potência e até onde essa pesquisa super crua me levaria!
Entre os diversos textos que revisitei encontrei uma passagem da minha primeira iniciação cientifica "(Per)Formar-se" realizada em 2014 onde estava tateando diferentes possibilidades do fazer artístico enquanto pesquisa.
"Segunda-feira 13 – outubro de 2014, uma noite fria, onde meus pensamentos já não cabiam somente no plano das ideias, uma vontade absurda de me expressar com o corpo ficou ainda mais evidente. Nesse tempo, até a possível escrita dessa iniciação, me encontro com a performance e me apaixono por essa linguagem cada dia mais […] Decidi naquela noite sair de casa e experimentar o que até então chamava de "sensações corpóreas"
(Per)Formar-se - A busca do conhecimento corpóreo no estado de estar, Órion Lalli
Em 2015 com um pouco mais de arcabouço dessa teórico e prático dessa pesquisa e já tendo uma visão e um domínio diferente do meu próprio corpo, propus um personagem para um espetáculo tradicional da cidade criando uma persona mais animalesca com traços de insetos, macacos, cobras e galinhas. assim eu desenhava diferentes partituras corporais e sonoras em toda a cena.
Nessas idas e vindas encontramos por fim um outra montagem, que diferente da de Moacyr Góes de 1993, estava em cartaz e poderíamos ver de pertinho. Era outra leitura desse mesmo conto de Kafka. A peça também era chamada de "Comunicação a uma Academia", com a atriz Juliana Galdino da Companhia Club Noir. Assisti esse espetáculo duas vezes, fiquei impressionado com essa montagem, a estrutura de voz da Juliana fazendo o papel de Pedro o Vermelho, o que ela fazia com seu corpo estando "vestida" de símio, eu já tinha assistido outras montagens do Club Noir, porém, essa foi a que mais me instigou, até porque era basicamente o conto completo de Kafka e recheado de riqueza cênica e de um saber teatral inigualável, até hoje me lembro da cabeça de cervo morto pendurado no cenário.
Achei apenas esse vídeo na internet, mas já dá pra ter uma ideia do porque fiquei tão impressionado com essa interpretação.
Tudo isso para chegar onde estamos hoje, esse experimento cênico ainda em desenvolvimento chamado "Les Singes", que faz referência a canção homônima do Jacques Brel, ainda não falo francês, mas queria trazer esse pensamento crítico desse sistema que me foi forçado a viver por isso decido usar o título da canção como homônimo do espetáculo e "deixar cair o pano" com uma música francesa e nem preciso falar sobre todas as questões politicas presente nessa canção de Brel que se relaciona com minha trajetória, além de fazer um referencial ao primeiro espetáculo que vi sobre esse conto que vocês lembram chamava-se "Primus".
Me lembro que um momento lá em 2015 comecei a abranger a pesquisa por diferentes caminhos que às vezes pareciam que era apenas um grande labirinto sem saída e não sabia que faria tanto sentido hoje em 2022. Eu pesquisava os traços do impressionismo nos trabalhos de Kafka e essa ideia de distorção da realidade, lembro que lendo um dos seus textos ele dizia algo sobre o animal de estimação de Adão ser a cobra que o expulsou do paraíso, ou algo nesse sentido, mesmo sem eu perceber isso me encaminhou para críticas ferrenhas que faço hoje sobre a Instituição chamada Igreja e que seria um dos motivos que me levaria para esse asilo politico.
Ou sobre os pensamentos que transpassam suas obras como o modo de vida opressor, além de muitas dúvidas como o porque eu pensaria na obra de Kafka como algo expressionista? Será mesmo que a sociedade é evoluída? O mundo da arte é uma sociedade? Tudo isso era e ainda é um turbilhão na minha cabeça que talvez eu nunca tenha uma resposta.


É muito impressionante que quando comecei a fazer esse texto para tentar desmembrar os pensamentos em torno do conto de Kafka, decidi faze-lo nesse formato de linha cronológica do meu trabalho e consequentemente acompanhando esse processo documental até hoje. Como é que essas convecções tão sinceras que por um primeiro momento podem não terem sido pensadas para formar algo relacional e que olhando o todo de fora, tudo forma um sentido ainda mais amplo e todas as peças se encaixam, como um grande quebra cabeças. Bem chegou o momento de entrar na proposta da construção do espetáculo "Erectus", que apresentei em 2019 no Museu da Cidade de São Paulo e me faz refletir o agigantamento dessas sensações e o porque esse conto permeia grande parte do meu trabalho.
Proponho no desenrolar desse novo estudo, por muitas vezes de forma bem mais branda, uma discussão sobre o império e fundamentalismo religioso, sobre o fato da igreja católica se apropriar de corpos minoritários, como o fato presente de ser forçado a sair do meu país e se refugiar na França, de uma forma sútil em uma primeira leitura do espetáculo. Momento esse marcado quando os soldados/militares na caçada dos macacos realizam uma partitura corporal com lanternas ao som de uma "marcha militar" que faz parte de um culto e que é tocada dentro dessas instituições religiosas.
Nesse momento falar sobre a ditadura no Brasil é algo que me marca forte assim como Pedro o Vermelho foi marcado no rosto com o tiro dos soldados, por isso decidi utilizar a música "Cada macaco no seu galho" logo no começo do espetáculo, e a alusão que ela carrega com seus intérpretes que também foram pessoas refugiadas políticas e a relação do fator imagético de prender ou não esses nossos corpos.
Esse conto me persegue tanto que durante a pandemia da Covid-19, pude assistir ao espetáculo MACACO – RELATÓRIO A UMA ACADEMIA um experimento online com direção de Beto Brown, essa montagem não me impressionou tanto como as outras, mas me serviu de bagagem também.
"Muitas vezes vi nos teatros de variedades, antes da minha entrada em cena, um ou outro par de artistas às voltas com os trapézios lá do alto junto ao teto. Eles se arrojavam, balançavam, saltavam, voavam um para os braços do outro, um carregava o outro pelos cabelos presos nos dentes. “Isso também é liberdade humana”, eu pensava, “movimento soberano.” Ó derrisão da sagrada natureza! Nenhuma construção ficaria em pé diante da gargalhada dos macacos à vista disso."
Trecho do livro - Um Médico Rural - Franz Kafka "Relatório a uma Academia".
Nos meados de 2014 quando fazia parte de uma companhia de teatro itinerante, nosso passatempo enquanto atores era decorar textos e ficar recitando na mesa do bar, ou até em situações que não faziam sentido nenhum, como na fila do caixa do mercado ou em um posto de gasolina, um desses textos era "A Trapezista do Circo" de Antônio Bivar e que ficou conhecido na voz de Maria Bethânia. Decidi também resgatá-lo e me basear nele para criar o texto do inicio do espetáculo "Les Singes "onde às duas velhas falam sobre o peso do mundo e a sua relação com esses primatas do teatro de variedades, do circo, do show busines. Esse "capital" que insiste em domesticar os artistas e ir na onda Norte Americana e do sistema heteronormativo com shows, colocando o artista como instrumento em prol de um comércio e que, por inúmeras vezes, sem nenhuma estrutura para abraça-los VS a arte como entretenimento.
Como o próprio Kafka cita no texto levar esses macacos para o circo, e aqui falo do circo não enquanto circo (imagem física) criada da palavra e sim o circo enquanto alusão precedente da arte da Broadway, do fazer arte. Ter que pagar para ver algo que em seu habitat faziam de graça. E sem contar várias analogias mais superficiais que o conto trás na sua primeira leitura e que não são menos importantes. Utilizo para criar esse majestoso ambiente de "espetáculo" os números clássicos que aprendi quando criança do chamado "teatrão" - a dublagem, as danças burlescas e a criação de figuras maneirosas e bem caricatas, fazendo também uma crítica a arte e aos processos que são imputados nessas vivências artísticas, que no meu caso não são só físicas e sim estruturais, sobre as diferentes maneiras e violências que o corpo de artista sofre dentro da própria estrutura feudal que ainda vivemos e que chamamos de "Mundo da arte".
Sem mais delongas agradeço a possibilidade de partilha nesse processo criativo! Poderia escrever muitas outras páginas mais tenho aula de francês amanhã cedo, então volto em breve!
"Seja como for, no conjunto eu alcanço o que queria alcançar. Não se diga que o esforço não valeu a pena. No mais não quero nenhum julgamento dos homens, quero apenas difundir conhecimentos; faço tão somente um relatório; também aos senhores, eminentes membros da Academia, só apresentei um relatório. "
Trecho do livro - Um Médico Rural - Franz Kafka "Relatório a uma Academia".


LES SINGES - Baseado no 'Relatório para uma Academia' de Franz Kafka
Direção geral: Órion Lalli
Direção Assistente: Ana Maria Haddad Zavadinack
Intérpretes: Ana Laura Nascimento, Órion Lalli
Voz Off: Nino Djerbir
Desenho de luz e som: Órion Lalli
Visuais: Órion Lalli
Agradecimentos Especiais: Alexandre Caetano pela possibilidade de intercâmbio e pesquisa, Sébastien Vengude pelas suas mãos mágicas, ao l’atelier des artistes en exil pela experiência e esclarecimentos que enriqueceram o texto com significado, ao Festival TRANSFORM! #4 pela sua confiança e a todos os voluntários que ajudaram no desenvolvimento deste projeto.
Musicografia Utilizada no espetáculo:
Consolación y Lágrimas - Banda de Cornetas y Tambores Corona de Espinas
Les Singes - Jacques Brel
Xiquexique - José Miguel Wisnik e Tom zé
Cada Macaco no Seu Galho - Riachão, Caetano Veloso e Gilberto Gil
In the Jungle the Mighty Jungle - Real Mountain
Mas que Nada - Luiz Henrique
Ouverture/And all That Jazz - Catherine Zeta-Jones, Renée Zellweger e Taye Diggs
Blue Canary - Division S
Sound Efects
Fotografias: macacos retiradas do banco de imagens depositphotos - @ everett225 (assinatura anual)
Bibliografia do meu arquivo pessoal para estudo
(alguns deles é só clicar no link para baixar o pdf)
Essencial - Franz Kafka - Modesto Carona - Companhia das Letras/Penguin
Kafka – Poeta – Expressionista? Danielle Magalhães (Mestranda, Ciência da Literatura, UFRJ) - 2015
Teatro e Política Poesias e Peças do Expressionismo Alemão Georg Heym, Ernst Toller, Georg Kaiser
Ironia e opressão: Franz Kafka e seu "Relatório para uma academia" Karin Volobuef Revista de Letras
Vol. 34 (1994), pp. 23-33
De Coetze a Ferréz: lições de humanismo e realismo - Rejane Pivetta de Oliveira (2009)
Texto isolado - Comunicação a uma Academia
Um Médico Rural - Franz Kafka - Modesto Carona
Outras adaptações que encontrei online
"Ein Bericht für Eine Akademie" mit Klaus Kammer - https://www.youtube.com/watch?v=91UaaP_xh0Q
Boa Companhia - Primus - https://www.youtube.com/watch?v=mAudUnuNgcM&t=2869s
Samson Stepanyan: Franz Kafka " A report for an academy" 1999 - https://www.youtube.com/watch?v=11hIQ9CjrgU
Um Relatório para Uma Academia - Elias Maroso - https://www.youtube.com/watch?v=9fjq2kGJVcE&t=36s
REPORT TO AN ACADEMY by FRANZ KAFKA | ZERO POINT THEATRE COMPANY - https://www.youtube.com/watch?v=YVWQZGvHvfo
THE MONKEY - Maria Vasconcelos - https://www.youtube.com/watch?v=uBSSvSp5L4M
Rapport à une académie - par Franz Kafka - https://www.youtube.com/watch?v=bv7eI1pj6Jk
Ein Bericht für eine Akademie - Monolog mit Kilian Land - https://www.youtube.com/watch?v=m610Z1QPp3Y
Kafka's Monkey trailer - https://www.youtube.com/watch?v=fIgrci3x-4w
KAFKA "A Report to The Academy" - https://www.youtube.com/watch?v=tOkNyBBOHYk
Relatório para Uma Academia - Kymura Schetino - https://www.youtube.com/watch?v=azSptSCqK2k
Ein Bericht für eine Akademie | Franz Kafka - https://www.youtube.com/watch?v=0d1lqnQ85o0&list=PLR3CvphaK6MMkhkkEOobb5DpMRmkgRkaO&index=13
Estudando Kafka pelo Youtube
Macacos me mordam - Documentário - https://www.youtube.com/watch?v=TTQ-JPOgVc8&t=12s
Direito & Literatura 205 - Relatório para Academia - B1 - https://www.youtube.com/watch?v=QLJNm253y_A
Direito & Literatura 205 - Relatório para Academia - B2 - https://www.youtube.com/watch?v=OX_OZUgOoFQ
Essencial Kafka (Franz Kafka) Rodrigo Gurgel - https://www.youtube.com/watch?v=cp3xYNoLyM8
Lucas Tardin - Um Relato para uma Academia Franz Kafka - https://www.youtube.com/watch?v=DZiwVsukQBo&list=PLR3CvphaK6MMkhkkEOobb5DpMRmkgRkaO
O macaco de Kafka - #Série, contos [01] - https://www.youtube.com/watch?v=Xh2ZT7N6oMQ&list=PLR3CvphaK6MMkhkkEOobb5DpMRmkgRkaO&index=5
Para ler mais na internet
https://ralasfer.medium.com/comunicado-a-uma-academia-73e755058965